O Espaço de diálogo sobre o Ensino Médio Público

terça-feira, 2 de outubro de 2012

INCLUSÃO DIGITAL E JUVENTUDE NA AMAZÔNIA




    Inclusão é o termo positivado da palavra exclusão, portanto, para entendermos o que é inclusão é necessário reconhecermos a exclusão. Excluído é um indivíduo sem acesso a algo que lhe seria devido, por isso podemos identificar os excluídos da escola, os excluídos da casa (ou sem-teto), os excluídos de terra (os sem-terra), enfim,  os tipos de exclusão existentes em nossa sociedade. Também são vários os movimentos de pessoas excluídas, o Movimento dos Sem Terra é um dos mais conhecidos.

    Assim, a inclusão é uma ideia que tem como conteúdo outra ideia, a de democracia. A inclusão anda junto com a democratização da sociedade, em outras palavras, incluir significa democratizar o acesso a bens e serviços que garantem a todos uma vida digna.


    Se a inclusão deve ser entendida como estratégia de garantia de direitos, a inclusão digital pode ser entendida como uma estratégia de garantia do direitos de todos ao acesso às tecnologias de informação e de comunicação. Muitos são hoje os excluídos tecnológicos. No Brasil, cerca de 50% das pessoas que acessam a internet o fazem de forma paga, nas lanhouses, isso sem contar aquelas pessoas que nem nestes lugares fazem uso dos computadores e das novas tecnologias de informação.

    No Pará, segundo o censo demográfico de 2010, em apenas 18% dos domicílios há pelo menos um microcomputador e apenas 12% dos domicílios têm algum computador com acesso à internet. Vê-se, portanto, o tamanho da nossa exclusão digital. São mais de 1,5 milhão de lares sem computador e sem acesso à internet e pouco mais de 300 mil, apenas, com computador ligado à internet. Já a PNAD revela que 43% dos paraenses não utiliza a internet e 60% dos que a usam o fazem em centro público de acesso  gratuito ou pago, principalmente.

    Hoje em dia ter uma vida digna significa ter acesso às diferentes tecnologias que facilitam os processos de comunicação humana, principalmente os meios informacionais. Quem não tem acesso a computadores, à internet e às diferentes tecnologias computacionais terá mais dificuldades de viver em sociedade já que quase tudo está ligado ao uso destas tecnologias. Os serviços de saúde, de educação, os bancos, o comércio estão exigindo conhecimentos de informática e capacidade de interação digital. Por isso pode-se dizer que quem não sabe fazer uso ou não tem acesso à informática fica mais distante de diferentes bens e serviços básicos. A PNAD revela que 70% dos usuários de internet no Pará utilizam esta ferramenta como forma de comunicação com outras pessoas, o que indica a importância dessa nova ferramenta comunicacional.

    Mas não basta ter acesso é preciso saber usar essas ferramentas e quanto mais se souber usá-las, maior será a capacidade de comunicação dos sujeitos. Por isso que os telecentros comunitários têm uma importância grande para a democratização do nosso país. Por eles deveria ser possível que comunidades tivessem acesso ao computador, à rede mundial de computadores (web) e às diferentes redes mundiais de relacionamento.

    Por isso que ações de formação que busquem promover a inclusão digital no Brasil, como os movimentos sociais de inclusão digital e o Programa Telecentros.BR, são tão importantes, já que formam agentes multiplicadores de conhecimentos e capacidades necessárias para que diferentes comunidades tenham acesso aos computadores, utilizando-os de forma eficiente, democrática e solidária, formando usuários críticos dos conteúdos midiáticos. A inclusão digital deve, portanto, favorecer o desenvolvimento pleno dos indivíduos.

    O Programa EMdiálogo, vinculado ao Ministério da Educação, coordenado pelos observatórios de Juventude da UFMG e da UFF, também cumpre uma função importante, já que assume a tarefa da promover a inclusão digital entre os estudantes de ensino médio de escolas públicas do Brasil.

    No Pará, segundo a PNAD, apenas 13% dos estudantes da educação básica têm acesso à internet nos seus estabelecimentos de ensino, o que é um contrasenso já que 71% dos usuários de internet no estado a utilizam para realização de tarefas de educação e de aprendizado. Ou seja, os estudantes paraenses utilizam a internet para a realização das suas tarefas educativas mas as escolas não os preparam para este uso. Talvez isso ajude a explicar o uso tão superficial que fazem os usuários das redes sociais no Pará e no Brasil.

    Portanto, fazer da web e das diferentes redes sociais uma ferramenta que auxilie no desenvolvimento da auto-organização dos jovens é uma tarefa que deve ser assumida pelos educadores e gestores educacionais que assumem uma perspectiva emancipadora.

    Se todo saber e toda tecnologia é uma construção social, já que resulta da soma do trabalho de todos os indivíduos trabalhadores, promover a inclusão digital nas escolas, nas comunidades e nos mais diferentes espaços sociais é uma questão não apenas de democracia, mas de justiça social.

Referências
BONETI, Lindomar e outros. Inclusão digital – da teoria à prática. Curitiba, Imprensa Oficial do Paraná, 2010.
IBGE, Censo Demográfico 2010. (http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=pa&tema=resultgeramostra_censo2010). Acessado em 17/07/2012.
IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - Acesso a Internet e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal 2008 (http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=pa&tema=pnad_internet_celular_2008). Acessado em 17/07/2012.

Um comentário:

  1. Esse pequeno texto foi feito originalmente para o material de formação do Programa Telecentros.BR.

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