O Espaço de diálogo sobre o Ensino Médio Público

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Movimentos Sociais, Ética, Trabalhadores e Tecnologias



Por Doriedson Rodrigues[1]
         O “novo intelectual” (que não é apenas um indivíduo, mas é também constituído por diversos sujeitos políticos organizados), enquanto analisa criticamente e trabalha para “desorganizar” os projetos dominantes, se dedica a promover uma “nova inteligência social”, capaz de pensar a produção, a ciência, a cultura, a sociedade na óptica da classe subjugada à qual pertence (SEMERARO[2], 2006, p. 19).

            Na atualidade, há de se considerar que uma parcela da juventude brasileira faz parte de uma rede de homens e mulheres ligados por meio da tecnologia, cuja presença pressupõe, no interior de uma perspectiva de classe, contribuir para que essa tecnologia esteja a serviço desses homens, dessas mulheres, ajudando-os a refletir sua história de vida, seus projetos, suas lutas, seus movimentos.
            Nessa perspectiva, cabe à juventude, mas não somente a ela, ser solidária  com diferentes segmentos da população brasileira, como os sujeitos presentes na Região Norte, no contexto paraense, no sentido de os mesmos  utilizarem a tecnologia para promover seus valores, sua identidade, expondo ao mundo suas crenças, contribuindo para que suas comunidades se promovam entre outros homens buscando melhorar a qualidade de vida.

            Para tanto, temos de considerar que os homens não são iguais, tampouco o mundo em que vivem. Um olhar nesse mundo em que vivemos mostra-nos que há ricos e pobres, explorados e exploradores, uns que dividem o pouco que têm e outros que nunca operam divisão. Há uns que sempre querem ter mais e outros que, com poucos recursos, lutam contra um modo de vida que os exclui de uma vida com qualidade, pois eles não querem só comida, como já falava a música do grupo Titãs, mas também diversão e arte.
            Trata-se de uma luta que considera a necessidade de buscarmos a organização política em prol de objetivos comuns, para o que a ligação com os movimentos sociais é de grande importância, entendendo-os como um conjunto de pessoas que se unificam objetivando lutar por seus interesses. São pescadores, agricultores, professores, garis, grupos de mulheres, grupo de homossexuais, enfim, são homens e mulheres buscando pela união fortalecer-se para garantir direitos, mudar a sua realidade.
            Com esse entendimento, entendemos que movimentos sociais são os homens e mulheres se movimentando para conseguir mudanças em sua comunidade, região, município. E esses homens e mulheres têm nas redes sociais – mas também em outras formas de movimentação social, como Grêmios Estudantis, por exemplo – importante meio para se fazerem reconhecidos pela sociedade e atendidos por ela, quer pelo governador, pelo presidente, pelo prefeito, por outros homens e mulheres que muitas vezes não permitem que esses homens e mulheres tenham o direito de existirem com qualidade de vida.
            Nesse sentido, consideramos que as redes sociais, para além de servirem para demonstrar/socializar afetividade, podem ajudar esses movimentos sociais, esses grupos de homens e mulheres geralmente sofridos pelo dia-a-dia, a se projetarem na sociedade, mostrando aos outros seus valores, suas crenças, seus produtos.
            Assim, por meio das redes sociais pode-se contribuir para que as pessoas ajudem suas comunidades, seus movimentos sociais, suas organizações a utilizarem a tecnologia, os blogs, os facebooks, enfim, os recursos da internet, por exemplo, para serem suas vozes, projetando para outros homens e mulheres outras vidas, mas em prol de um bem comum. E o bem comum, por exemplo, pode ser ajudando a denunciar situações de miséria, como a expressa pela charge abaixo.

Fonte: Prova de Redação do ENEM 2000
Nessa perspectiva, a juventude, mas não somente ela, pode, por exemplo, contribuir para que sujeitos presentes em diferentes espaços tecnológicos coletivos tornem-se cada vez mais multiplicadores de ações ligadas a movimentos sociais, utilizando as tecnologias para vencer barreiras de preconceitos, para promover justiça, denunciar opressão, fazendo uma relação entre homens, até porque um galo sozinho não tece uma manhã/ele precisará sempre de outros galos, como diz o poeta João Cabral de Melo Neto, ou seja, os homens precisam ser parceiros na construção de uma vida melhor; ressaltando, contudo, que essa relação de parcerias, de relações, deva se efetivar com ética.
            O leitor, neste momento, pode estar pensado que agora, talvez, tudo tenha se complicado, porque apareceu a palavra ética. É preciso ter calma. Ética nas palavras é muito simples. A sua prática é que exige responsabilidade.
            Vamos ver nas palavras? Você já ouviu aquele poema de Fernando Pessoa, o grande poeta português, tudo vale a pena quando a alma não é pequena? Pois é, isso é ética!
            A pergunta que podemos nos fazer nesse momento, diante do trecho do poema, é: como isso pode ser ética?
            Vamos estabelecer, então, um link do trecho do poema de Fernando Pessoa com a palavra ética. Vamos articular nossos pensamentos, ampliando o que pode dizer o poema. Ética significa que Tudo vale a pena quando a alma não é pequena, ou seja, que tudo vale apena desde que se respeite o outro, a sociedade, zelando para que haja vida, respeito social.
            Mas o que tem haver ética com tecnologias, redes sociais? Tudo a ver. Numa perspectiva de classe e de formação para a emancipação humana, é preciso ter responsabilidade para ser solidário a outros sujeitos no sentido de os mesmos utilizarem a tecnologia para promover o bem comum, ajudando-os a perceberem que devem zelar para que outros homens não sejam desrespeitados pelo que se publica na rede. Vale tudo, para a promoção do homem. Isso é ética! O contrário é antiético, porque não promove o homem, a mulher.
            Quer entender o tudo vale a pena, quando a alma não é pequena? Quer refletir sobre ética? Pense e exercite o bem comum. É preciso orientar o uso das tecnologias para promover os movimentos sociais, a comunidade, o município, o bairro, de modo a se utilizar a força da internet para publicizar o que os movimentos sociais, seus grupos, sua coletividade organizada, fazem, o que querem. É importante ser solidário com outros sujeitos para contribuírem com as lutas dos trabalhadores.
            Mas uma vez é possível nova indagação. Tudo bem! Vamos lá então. O que tem haver tecnologias e redes sociais e trabalhadores? Ou melhor, o que são trabalhadores?
            Pois bem, trabalhadores são todos os homens, já que todos de alguma forma trabalham, não é isso mesmo?! Calma lá! Não é bem assim. Trabalhadores são aqueles que estão excluídos das condições dignas de vida. Ou melhor, são aqueles que diariamente têm que usar suas forças para lhes dar sustento, aos outros também, porque estão sujeitos à dominação de outros homens que possuem riquezas. É isso! Trabalhadores são aqueles que comem o pão com o suor do rosto, quer dando aulas, trabalhando na lavoura, sendo taxista, moto-taxista, pescador, e tantos outros homens e tantas outras mulheres.
            Agora sim podemos responder àquela indagação. É preciso desempenhar o papel de contribuir para que os trabalhadores, que se organizam socialmente, tenham nas tecnologias, na internet, nos computadores, uma ajuda para se verem reconhecidos enquanto sujeitos de direito, de cultura, de identidade. É necessário ajudar os homens e as mulheres a contribuírem com a organização dos trabalhadores, podendo ser uma comunidade rural do interior da Amazônia, inserida em alguma ilha, a projetarem mundialmente seus problemas, suas conquistas, suas soluções para uma vida digna, com direito à educação, saúde, economia solidária.
            É isso! É importante desenvolver essa tarefa, essa luta, atuando junto a sujeitos que também são trabalhadores a auxiliarem outros trabalhadores em suas atividades de promoção do bem comum por meio do uso das tecnologias, mediadas por meio de diferentes redes sociais. Por meio delas, os trabalhadores poderão ser orientados a produzirem, por exemplo, vídeos para denunciarem os problemas enfrentados pela comunidade, as conquistas por ela realizadas, mas sempre na perspectiva do respeito ao outro, aos outros, às outras.
Tá vendo só?! Já começamos a avançar no respeito ao outro intensificando o reconhecimento de que existem outros e outras, homens e mulheres, sujeitos trabalhadores com interesses distintos, lutas diferentes, mas que têm na tecnologia uma aliada para divulgar o que acontece nos seus mundos, fazendo-os conhecidos por outros mundos.
Conhecidos por outros mundos. Nossa! Estamos ligados, não é isso mesmo?! Mas precisamos socializar com ética a tecnologia entre os trabalhadores, organizados socialmente, de modo que eles a utilizem para se fortalecerem enquanto movimento social, enquanto grupos culturais, identidades com respeito a outras identidades, promovendo uma sociedade de respeito.
             
           


[1] Doutor em Educação (UFPA). Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Pará.
[2] SEMERARO, G. Gramsci e os novos embates da filosofia da práxis. São Paulo: Idéias & Letras, 2006.

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