O Espaço de diálogo sobre o Ensino Médio Público

terça-feira, 21 de agosto de 2012

O QUE É SER JOVEM EM GURUPÁ-PA?

            
                    Estivemos por dois dias (9 e 10 de agosto) convivendo com jovens e educadores da Casa Familiar Rural de Gurupá, no Estado do Pará. Trata-se de uma escola de ensino médio, funcionando em sistema de alternância, tendo como discentes jovens oriundos de diferentescomunidades rurais da região, ribeirinhas, quilombolas e assentadas.
                 A escola já tem 12 anos de existência e está localizada às margens do Rio Uruaí, no Município de Gurupá, ofertando turmas de ensino fundamental e médio, inclusive o curso técnico de agropecuária na forma integrada.
                Na visita revelaram-se muitas carências: faltam professores e técnicos educacionais em número suficiente, falta energia regular (a escola tem um gerador que funciona em horários determinados, diminuído em função do corte dos recursos repassados pela Prefeitura), falta um laboratório de informática, com acesso à rede mundial de computadores, bem como materiais didáticos diversificados. Por outro lado sobram disposição e compromisso político para a superaração de muitas das dificuldades.
             Em conversa com educadores da escola, chamados de monitores (mesmo os professores licenciados), ficou claro que a escola foi criada e funciona em função das demandas e necessidades educacionais da população local. É a comunidade que define, anualmente, os temas geradores que agregarão conteúdos e atividades formativas, tendo como objetivo central o “desenvolvimento das comunidades locais”. “Ensinar não é o mais importante”, explica um monitor, “o mais importante é o desenvolvimento do bem estar dos trabalhadores rurais da região: quilombolas, assentados e ribeirinhos”. A Escola serve a este fim.
                  Em conversa com os jovens estes revelaram capacidade técnica e, principalmente, maturidade política. A maioria mostrou grande capacidade de argumentação e de exposição de suas ideias. Apesar de poucos fazerem uso frequente de internet, em função de muitas dificuldades de conexão, eles revelaram gostos semelhantes a todo jovem: música diversificada, futebol, dança e diversão, apesar de todos eles desempenharem atividades produtivas, na escola e nas propriedades da família.
             Esta visita constituiu a parte empírica da pesquisa que estamos coordenando, intitulada Práticas pedagógicas alternativas de formação dos trabalhadores referenciadas em projetos contra-hegemônicos”, financiada com recursos do CNPq. Com ela buscamos identificar e sistematizar experiências escolares vinculadas a projetos de trabalhadores, no estado do Pará.
             O trabalho da CFR de Gurupá é uma experiência que precisa ser valorizada pois é uma rara experiência, no estado do Pará, de oferta de ensino médio, do campo, técnico, sob a gestão de uma organização de trabalhadores e que assume, claramente, uma perspectiva contra-hegemonica. Também é destacável o fato de ser uma das únicas experiências educacionais no Pará que realiza, efetiva e conscientemente, a integração entre saberes locais e universais, entre a base comum da escola e a formação técnica específica.
           Gestores, educadores e alunos têm tido dificuldades em manter regular a oferta de ensino médio e a situação só piorou no Governo de Simão Jatene, já que este suspendeu o convênio assinado no Governo Ana Júlia que garantia o repasse de algum recurso e a disponibilidade de parte do pessoal.
Estão disponíveis no flicker várias fotos com o registro da visita:

Um comentário:

  1. Parabenizo o Prof. Ronaldo e a Fernanda pela experiência.
    A título de complementação, sugiro que seja verificado o porquê da suspensão do convênio, haja vista que se for problema de prestação de contas, é algo simples de resolver, permitindo então que a Localidade possa receber novamente recursos via convênio.

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