Publicado originalmente no Blog Luis Nassif on line (http://www.advivo.com.br/luisnassif)
Autor: Luiz
Claudio Tonchis
O
desinteresse dos alunos pelos estudos, aumento dos casos de indisciplina,
violência e atos infracionais nas escolas preocupam os educadores. Além dos
baixos salários e as más condições de trabalho, são as principais causas
geradoras de angústia, insatisfação, medo, desestimulando-os ao exercício da
profissão. Frase como, por exemplo: “os jovens de hoje não tem limites”, “não
querem saber de nada”, “não estudam”, “são apáticos”, “sem educação”,
tornaram-se comum. As escolas públicas são muito mais vulneráveis a esses
problemas pelas suas características: plural, universalizada, composta por uma
clientela heterogênea quanto à condição econômica, social e cultural.
A
indisciplina e a violência na escola é a reprodução da violência que ocorrem na
sociedade. A escola não é desconectada da sociedade, faz parte dela. As
condições políticas e sociais do país, má distribuição de renda, impunidade,
corrupção, baixa escolaridade e de renda da maior parte da população são
exemplos de problemas sociais que refletem na escola. Além disso, as mudanças
sociais contemporâneas ocorridas no modelo de família refletem na formação dos
jovens. Atualmente os pais necessitam trabalhar, as crianças e
adolescentes tem ficado cada vez mais aos cuidados de terceiros ou sós, numa
fase da vida tão importante para a educação de valores indispensáveis à boa
convivência humana. O pior é que, muitas vezes, a família não é referência.
Esses problemas se agravam nas famílias de baixa renda, eles não podem pagar
uma cuidadora capacitada ou colocar numa escola infantil de qualidade. Faltam
vagas nas creches e de projetos alternativos que acolham essas crianças e
adolescentes enquanto os pais trabalham.
Pois
bem, esses jovens indisciplinados e violentos estão nas escolas, não é a
maioria, mas são muitos. Não estão lá para estudar, estão ali porque a escola é
um ambiente social deles ou porque são obrigados. No final dos anos finais do
ensino fundamental e no ensino médio os problemas se agravam. Aumentam à falta
de respeito, alunos se recusam a fazer atividades e estudarem, atrapalham as
aulas, brigas, xingamentos, palavrões, depredação do patrimônio público,
bulling e ameaças são exemplos de ocorrências diárias no cotidiano das escolas.
A figura do professor, que antes, e não faz muito tempo assim, talvez uns vinte
ou trinta anos atrás, tinha a função de professar o conhecimento, hoje não é,
mas assim. Hoje, ele tem que mediar conflitos, chamar atenção dos alunos,
enfim, tentar primeiro manter a ordem para que a sala de aula tenha condições
de fazer o que ele fazia antigamente.
A
questão é que manter a ordem da sala está cada vez mais difícil, os professore
não obtém êxito. É humilhado, ameaçado e ofendido com palavrões. O bom aluno
que tentar defender o professor e a ordem, também é ameaçado. Outros,
menos violentos quando é chamado atenção, olham para o professor com “cara” de
deboche e respondem: “tô suave”; “não dá nada não professora”. Ah! Vai me
mandar para a diretoria? Vai chamar meus pais? Conselho Tutelar? Boletim de
Ocorrência? Fica a vontade “fessora”. “Não dá nada não”. Suspensão? Que bom
vou ficar uns dias em casa e ficar mais na internet, “na brisa”, vou curtir.
Os
educadores trabalham em situações extremas de nervosismo, medo e angústia.
Preparam aulas maravilhosas e não conseguem colocar em prática. Não é possível
produzir se o ambiente e as condições não são favoráveis, o resultado é a baixa
qualidade do ensino e não está pior porque muitos não desistem. A maioria é
consciente de suas responsabilidades: transformar vidas, mudar a realidade
caótica de muitas crianças e adolescentes, prepara-los para serem cidadãos
críticos, conscientes, responsáveis e com uma formação moral e ética por uma
sociedade melhor. O paradoxo é que eles são responsabilizados pelo fracasso e o
insucesso escolar. Angústia dupla. Na hora de receber o salário, outra
angústia.
Jovens,
educadores e pais são vitimas do modelo educacional político social e
histórico. A melhoria da qualidade da educação acontecerá na medida em que o
país melhore a qualidade de vida da sua população, valorize a nossa cultura e
desvincule do modelo de práticas curriculares eurocentrista, uniformizadora e
colonizadora. Por enquanto, qualquer intervenção nas escolas é apenas um
paliativo e isso não dispensa qualquer ação dos sistemas de ensino. Por
exemplo, capacitar os educadores é muito importante, mas hoje não é esse o
principal problema. O maior problema é tê-los. Ninguém quer ser professor com o
salário que ganha e com as condições de trabalho vigente e se nada for feito a
educação brasileira travará em breve.
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