Por Doriedson Rodrigues[1]
O “novo intelectual” (que não é apenas um indivíduo, mas é também constituído por diversos sujeitos políticos organizados), enquanto analisa criticamente e trabalha para “desorganizar” os projetos dominantes, se dedica a promover uma “nova inteligência social”, capaz de pensar a produção, a ciência, a cultura, a sociedade na óptica da classe subjugada à qual pertence (SEMERARO[2], 2006, p. 19).
Na atualidade, há de se considerar
que uma parcela da juventude brasileira faz parte de uma rede de homens e
mulheres ligados por meio da tecnologia, cuja presença pressupõe, no interior
de uma perspectiva de classe, contribuir para que essa tecnologia esteja a
serviço desses homens, dessas mulheres, ajudando-os a refletir sua história de
vida, seus projetos, suas lutas, seus movimentos.
Nessa
perspectiva, cabe à juventude, mas não somente a ela, ser solidária com diferentes segmentos da população
brasileira, como os sujeitos presentes na Região Norte, no contexto paraense, no
sentido de os mesmos utilizarem a
tecnologia para promover seus valores, sua identidade, expondo ao mundo suas
crenças, contribuindo para que suas comunidades se promovam entre outros homens
buscando melhorar a qualidade de vida.
Para
tanto, temos de considerar que os homens não são iguais, tampouco o mundo em
que vivem. Um olhar nesse mundo em que vivemos mostra-nos que há ricos e
pobres, explorados e exploradores, uns que dividem o pouco que têm e outros que
nunca operam divisão. Há uns que sempre querem ter mais e outros que, com
poucos recursos, lutam contra um modo de vida que os exclui de uma vida com
qualidade, pois eles não querem só comida,
como já falava a música do grupo Titãs, mas também diversão e arte.
Trata-se
de uma luta que considera a necessidade de buscarmos a organização política em
prol de objetivos comuns, para o que a ligação com os movimentos sociais é de grande importância, entendendo-os como um conjunto de pessoas que se unificam objetivando
lutar por seus interesses. São pescadores, agricultores, professores, garis,
grupos de mulheres, grupo de homossexuais, enfim, são homens e mulheres
buscando pela união fortalecer-se para garantir direitos, mudar a sua
realidade.
Com
esse entendimento, entendemos que movimentos
sociais são os homens e mulheres se
movimentando para conseguir mudanças em sua comunidade, região, município. E esses
homens e mulheres têm nas redes sociais – mas também em outras formas de
movimentação social, como Grêmios Estudantis, por exemplo – importante meio
para se fazerem reconhecidos pela sociedade e atendidos por ela, quer pelo
governador, pelo presidente, pelo prefeito, por outros homens e mulheres que
muitas vezes não permitem que esses homens e mulheres tenham o direito de
existirem com qualidade de vida.
Nesse
sentido, consideramos que as redes sociais, para além de servirem para
demonstrar/socializar afetividade, podem ajudar esses movimentos sociais, esses
grupos de homens e mulheres geralmente sofridos pelo dia-a-dia, a se projetarem
na sociedade, mostrando aos outros seus valores, suas crenças, seus produtos.
Assim,
por meio das redes sociais pode-se contribuir para que as pessoas ajudem suas
comunidades, seus movimentos sociais, suas organizações a utilizarem a
tecnologia, os blogs, os facebooks,
enfim, os recursos da internet, por exemplo, para serem suas vozes, projetando
para outros homens e mulheres outras vidas, mas em prol de um bem comum. E o
bem comum, por exemplo, pode ser ajudando a denunciar situações de miséria,
como a expressa pela charge abaixo.
Fonte: Prova de Redação do ENEM 2000
Nessa perspectiva, a
juventude, mas não somente ela, pode, por exemplo, contribuir para que sujeitos
presentes em diferentes espaços tecnológicos coletivos tornem-se cada vez mais multiplicadores
de ações ligadas a movimentos sociais, utilizando as tecnologias para vencer
barreiras de preconceitos, para promover justiça, denunciar opressão, fazendo
uma relação entre homens, até porque um
galo sozinho não tece uma manhã/ele precisará sempre de outros galos, como
diz o poeta João Cabral de Melo Neto, ou seja, os homens precisam ser parceiros
na construção de uma vida melhor; ressaltando, contudo, que essa relação de parcerias,
de relações, deva se efetivar com ética.
O
leitor, neste momento, pode estar pensado que agora, talvez, tudo tenha se
complicado, porque apareceu a palavra ética. É preciso ter calma. Ética nas
palavras é muito simples. A sua prática é que exige responsabilidade.
Vamos
ver nas palavras? Você já ouviu aquele poema de Fernando Pessoa, o grande poeta
português, tudo vale a pena quando a alma
não é pequena? Pois é, isso é ética!
A
pergunta que podemos nos fazer nesse momento, diante do trecho do poema, é: como
isso pode ser ética?
Vamos
estabelecer, então, um link do trecho
do poema de Fernando Pessoa com a palavra ética. Vamos articular nossos
pensamentos, ampliando o que pode dizer o poema. Ética significa que Tudo vale a pena quando a alma não é pequena,
ou seja, que tudo vale apena desde que se respeite o outro, a sociedade,
zelando para que haja vida, respeito social.
Mas o que tem haver ética com
tecnologias, redes sociais? Tudo a ver. Numa perspectiva de classe e de
formação para a emancipação humana, é preciso ter responsabilidade para ser
solidário a outros sujeitos no sentido de os mesmos utilizarem a tecnologia
para promover o bem comum, ajudando-os a perceberem que devem zelar para que
outros homens não sejam desrespeitados pelo que se publica na rede. Vale tudo,
para a promoção do homem. Isso é ética! O contrário é antiético, porque não
promove o homem, a mulher.
Quer
entender o tudo vale a pena, quando a
alma não é pequena? Quer refletir sobre ética?
Pense e exercite o bem comum. É preciso orientar o uso das tecnologias para
promover os movimentos sociais, a comunidade, o município, o bairro, de modo a
se utilizar a força da internet para publicizar o que os movimentos sociais,
seus grupos, sua coletividade organizada, fazem, o que querem. É importante ser
solidário com outros sujeitos para contribuírem com as lutas dos trabalhadores.
Mas
uma vez é possível nova indagação. Tudo bem! Vamos lá então. O que tem haver tecnologias
e redes sociais e trabalhadores? Ou melhor, o que são trabalhadores?
Pois
bem, trabalhadores são todos os homens, já que todos de alguma forma trabalham,
não é isso mesmo?! Calma lá! Não é bem assim. Trabalhadores são aqueles que
estão excluídos das condições dignas de vida. Ou melhor, são aqueles que
diariamente têm que usar suas forças para lhes dar sustento, aos outros também,
porque estão sujeitos à dominação de outros homens que possuem riquezas. É
isso! Trabalhadores são aqueles que comem o pão com o suor do rosto, quer dando
aulas, trabalhando na lavoura, sendo taxista, moto-taxista, pescador, e tantos
outros homens e tantas outras mulheres.
Agora
sim podemos responder àquela indagação. É preciso desempenhar o papel de
contribuir para que os trabalhadores, que se organizam socialmente, tenham nas
tecnologias, na internet, nos computadores, uma ajuda para se verem
reconhecidos enquanto sujeitos de direito, de cultura, de identidade. É
necessário ajudar os homens e as mulheres a contribuírem com a organização dos
trabalhadores, podendo ser uma comunidade rural do interior da Amazônia,
inserida em alguma ilha, a projetarem mundialmente seus problemas, suas
conquistas, suas soluções para uma vida digna, com direito à educação, saúde,
economia solidária.
É
isso! É importante desenvolver essa tarefa, essa luta, atuando junto a sujeitos
que também são trabalhadores a auxiliarem outros trabalhadores em suas
atividades de promoção do bem comum por meio do uso das tecnologias, mediadas
por meio de diferentes redes sociais. Por meio delas, os trabalhadores poderão
ser orientados a produzirem, por exemplo, vídeos para denunciarem os problemas
enfrentados pela comunidade, as conquistas por ela realizadas, mas sempre na
perspectiva do respeito ao outro, aos outros, às outras.
Tá vendo só?! Já
começamos a avançar no respeito ao outro intensificando o reconhecimento de que
existem outros e outras, homens e mulheres, sujeitos trabalhadores com
interesses distintos, lutas diferentes, mas que têm na tecnologia uma aliada
para divulgar o que acontece nos seus mundos, fazendo-os conhecidos por outros
mundos.
Conhecidos por outros mundos.
Nossa! Estamos ligados, não é isso mesmo?! Mas precisamos
socializar com ética a tecnologia entre os trabalhadores, organizados
socialmente, de modo que eles a utilizem para se fortalecerem enquanto
movimento social, enquanto grupos culturais, identidades com respeito a outras
identidades, promovendo uma sociedade de respeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário