É um desafio pera educadores e unidades escolares
comprometidas com a formação ampla dos sujeitos a definição de estratégias de
organização curricular e de ensino que favoreçam a superação da visão
fragmentária e linear da realidade e que tornem mais factível um projeto de
formação orientado pela ideia de integração.
Para considerar as estratégias de ensino,
partimos da compreensão de que a ação didática também se coloca como um objeto
da disputa hegemônica entre capital e trabalho e esta disputa revela-se nas
diferentes perspectivas que assume. Para Candau (1995) a Didática tem sido
entendida ora sob uma perspectiva dicotômica e ora sob a perspectiva da
unidade. A visão dicotômica separa teoria e prática. Essa visão predomina nas
práticas de educação profissional que reproduzem a dualidade educacional
brasileira.
A didática pode ser entendida também como uma
ação de articulação entre a teoria e a prática. Esta articulação pode ser
pensada, no entanto, de diferentes maneiras: a) por justaposição, b) com
subordinação de um elemento a outro (da prática sobre a teoria ou da teoria
sobre a prática) ou c) sob a perspectiva da unidade indissolúvel (Candau,
1995).
Sob a ótica da dialética, a distinção entre
teoria e prática se dá no seio de uma unidade indissolúvel que pressupõe uma
relação de autonomia e dependência de um termo em relação ao outro. Na visão de
unidade a teoria nega a prática imediata para revelá-la como práxis social, a
prática nega a teoria como um saber autônomo, como puro movimento de ideias e a
teoria e prática são tidos como dois elementos indissolúveis da “práxis”,
definida como atividade teórico-prática. Seria esta perspectiva de unidade da
relação entre teoria e prática que orientaria os projetos de ensino integrado.
Considerando uma possível didática da educação
profissional, a perspectiva integradora deve pressupor:
·
O compromisso com a formação ampla e duradoura
dos homens, em suas amplas capacidades;
·
A ideia de práxis como referência às ações
formativas.
·
Que a teoria e a prática educativa constituam o
núcleo articulador da formação profissional;
·
A teoria sendo sempre revigorada pela prática
educativa;
·
A prática educacional sendo o ponto de partida e
de chegada;
·
A ação docente se revelando na prática concreta
e na realidade social;
Tendo como efetiva a possibilidade de práticas
pedagógicas se constituírem na perspectiva da unidade, é necessário buscarmos
os procedimentos e técnicas mais adequados ao projeto de formação integrada.
Entretanto, refutamos o tecnicismo (que supervaloriza as técnicas e as concebem
como garantia do ensino e da aprendizagem) e o politicismo (que desconsidera a
relevância das técnicas de ensino, associando-as, sempre, ao conservadorismo)
como formas de conceber as técnicas de ensino.
Se o tecnicismo foi hegemônico na educação
brasileira, nos anos 1970, nos anos 1980 o politicismo (que desconsidera a
relevância das técnicas de ensino, associando-as, sempre, ao conservadorismo) foi
amplamente incorporado pelos chamados “educadores progressistas”. Compreendemos
que ambas as correntes estão incoerentes com a perspectiva do ensino integrado
já que não conduzem a práticas de transformação social.
Tomamos, assim, as técnicas de ensino tal como
concebe Araujo (1991), como mediações das relações entre o professor e o aluno,
projetadas como condições necessárias e favoráveis, mas não suficientes do
processo de ensino. As técnicas de ensino assim compreendidas estão sempre
subordinadas, política e metodologicamente, às suas finalidades e as práticas
sociais que as conformam.
Também concordamos com Araujo (1991) quando este
defende que as técnicas podem estar a serviço da manipulação, do tecnicismo, da
Escola Nova ou da perspectiva libertadora. Sendo assim, torna-se possível
pensar e realizar um estudo dirigido sem a auréola planificante que o definia,
assim como também se torna possível a aula expositiva sem as características do
ensino tradicional. Qualquer técnica, portanto, compreendida como mediação,
deve ser reconhecida em seus limites e sem a certeza de que seja garantia de
sucesso do ensino e da aprendizagem na formação de amplas capacidades humanas.
Como “meio” a técnica sempre serve a um fim e é
nessa perspectiva que serão tratadas aqui as estratégias de ensino, em articulação
com um projeto educacional integrador e emancipador. Sua validade também só
pode ser avaliada se considerados os seus fins e a sua prática já que é o
exercício da técnica que a valida e não o seu prévio conhecimento teórico.
A possibilidade de ressignificação de diferentes
procedimentos de ensino não significa, porém, a afirmação de uma possível
neutralidade dos mesmos. Estes têm origem, história e usos sociais, que revelam
suas seus limites e potencialidades. Mesmo assim, eles constituem um conjunto
de possibilidades que, considerando as finalidades de emancipação e as
condições objetivas, podem favorecer mais ou menos ao desenvolvimento da
formação ampla dos indivíduos e, para isto, deve-se considerar a
problematização, o trabalho cooperativo (coletivo) e a auto organização como
referências para o trabalho didático.
A problematização
aqui é compreendida como um processo de exercício da criatividade, que requer
1) o reconhecimento da realidade ou de um dado objeto; 2) a identificação ou
formulação de ideias, perguntas, lacunas de compreensão daquela situação ou
objeto; 3) a escolha e uso de recursos teóricos e empíricos que permitam testar
aquelas ideias, responder às perguntas ou suprir as lacunas do conhecimento
existente; e 4) a avaliação do percurso e a refacção das ideias, de novas
perguntas e a identificação de novas lacunas. Neste caso, é o processo de enfretamento da situação
que promove o desenvolvimento da força criativa, não o resultado. Para Salomon (2000) é no exercício do enfrentamento do
problema que o homem promove a sua humanização
todo problema, desde o momento de sua percepção ou de sua
formulação, deve trazer ao ser humano a consciência de que enfrentar o desafio
para superá-lo significa realização humana e realização de vida
(Salomon (2000: p. 08)grifo meu).
O trabalho
cooperativo, compreendido por Pistrak (2000) como uma tarefa coletiva
entendida como uma unidade, ou seja, que requer a responsabilidade coletiva
pelo trabalho. Para este educador soviético é o trabalho coletivo que revela a essência da escola socialista,
tornando-se uma categoria central da sua proposta de pedagogia. O coletivo é
entendido assim não como a negação simples do indivíduo ou de sua
individualidade, mas como crítica às práticas individualistas.
Já a auto
organização deve ser buscada por meio do estímulo à iniciativa (atividade)
dos discentes permitindo aos mesmos que passem “por uma variedade de formas
organizacionais, o que pode ser conseguida dando-se à auto organização formas
mais flexíveis, que se adaptem cada vez às novas tarefas” (Pistrak, 2009, p.
123).
Estas referências devem ser orientadoras para as
práticas de ensino que se propõem coerentes com o projeto de enfrentamento à
fragmentação do ensino por meio do projeto do ensino integrado.
Referências:
ARAUJO, José Carlos Souza. Para uma análise das representações sobre as
técnicas de ensino. In: VEIGA, Ilma Passos de Alencastro (org). Técnicas de
Ensino: por que não? São Paulo: Papirus, 1991.
CANDAU, V. M. Rumo a uma Nova Didática. Petrópolis:
Vozes, 1995.
SALOMON, Délcio Vieira. A maravilhosa
incerteza. SP: Martins Fontes.
PISTRAK. Fundamentos da Escola do Trabalho. São
Paulo: Expressão Popular, 2000.
obs. Excerto do texto “PROBLEMATIZAÇÃO, TRABALHO COOPERATIVO E AUTO ORGANIZAÇÃO: possibilidades de procedimentos de ensino integrado”, de autoria de Ronaldo Lima Araujo e Maria Auxiliadora Araujo.
obs. Excerto do texto “PROBLEMATIZAÇÃO, TRABALHO COOPERATIVO E AUTO ORGANIZAÇÃO: possibilidades de procedimentos de ensino integrado”, de autoria de Ronaldo Lima Araujo e Maria Auxiliadora Araujo.
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