ENQUANTO ISSO, PARTE DA
JUVENTUDE QUE NÃO VAI ÀS PASSEATAS É ASSASSINADA
O Jornal Diário do Pará, na sua edição
de 24/06/2013, traz em sua capa o título: “Fim de semana violento com 14
assassinatos”, ocorridos na Região Metropolitana de Belém. Registra o Jornal
que foram 18 mortes no final de semana, sendo 13 por baleamento ou facada, que
vitimaram 12 jovens entre 16 e 19 anos. Mais 3 jovens morreram em acidentes de
trânsito e outro foi eletrocutado. No total 17 jovens morreram por causa
violenta apenas em Belém no último final de semana.
CAUSAS DAS MORTES REGISTRADAS
NO JORNAL DIÁRIO DO PARÁ DE 21 A 23/06/2013 – REGIÃO METROPOLITANA DE BELÉM
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Idade
|
Baleamento
|
Esfaqueamento
|
Acidente de
trânsito
|
Outras causas
|
Total
|
- 10 anos
|
0
|
0
|
0
|
0
|
0
|
10 a 14 anos
|
0
|
0
|
0
|
1
|
1
|
15 a 19 anos
|
3
|
0
|
0
|
0
|
3
|
20 a 24 anos
|
2
|
0
|
3
|
0
|
5
|
25 a 29 anos
|
3
|
0
|
0
|
0
|
3
|
30 anos ou mais
|
1
|
0
|
0
|
0
|
1
|
Sem informação da idade
|
2
|
2
|
0
|
1
|
5
|
Total
|
11
|
2
|
3
|
2
|
18
|
Fonte: Jornal
Diário do Pará. 24/06/2013.
|
Quem apertou o gatilho ou desferiu as
facadas foram, na maioria, outros jovens com quem parte das vítimas teria
“dívidas a acertar”, mas a causa destas mortes é a situação de miséria que vive
grande parte da juventude brasileira, em particular aquela que vive nas
periferias das grandes cidades, decorrente da forte concentração de rendas no
Brasil.
A maior parte da juventude paraense
vive em situação de muitas carências. 40% residem nos chamados aglomerados
subnormais (favelas, invasões, grotas, baixadas,
comunidades, vilas, ressacas, mocambos, palafitas, entre outros), 77% trabalham
sendo que 13% trabalham e estudam e dos que trabalham 69% ganham até 1 salário mínimo. Sua
escolarização também é precária, 20% dos jovens paraenses entre 15 e 17 anos
estão fora da escola e outros 250 mil estão atrasados . A juventude paraense também é a maior vítima dos conflitos de terra do estado, sendo
atingidas as juventudes quilombolas, ribeirinhas, assentadas e outras
populações tradicionais[1]. (ARAUJO e
ALVES, 2013).
Esta
situação de precarização da vida juvenil
é agudizada pela ausência de políticas públicas capazes de enfrentar ou ao
menos amenizar a vida destes jovens. As escolas públicas, principamente, que
atendem 92% das matrículas em Enino Médio, não asseguram o acesso a todos os
jovens e nem a pemanência com sucesso daqueles que lá resistem. A taxa de
abandono escolar no ensino médio é superior a 20% e a reprovação atinge cerca
de 15%. Políticas e programas culturais ou esportivos também são raros e,
quando existem, são pontuais, frutos de campanhas episódicas. Ações de
qualificação profissional, apesar de serem apontadas nos discursos
conservadores como possível solução para muitos conflitos, têm pouca oferta
e/ou sua oferta é de baixa qualidade, na foma de treinamentos de curta duração,
pouco contribuindo para o enriquecimento do universo cultural destes jovens.
Possivelmente
boa parte desta juventude não está representada nas manifestações juvenis em
curso no País. Também é possível supor que é orignária desta população aqueles
que fazem “baderna, violência e saques”, ações não toleradas porque colocam em
xeque o principal valor da sociedade capitalista, a propriedade.
Estes
jovens não têm nada a perder ou a temer (senão as cadeias) e quando esta
juventude for às ruas exigir seus direitos aí sim a República vai tremer com
uma revolução social, neste dia as manifestações em curso, de certo modo
“administradas pela mídia”, vão parecer bricadeira.
A
situação colocada, que faz das juventudes trabalhadoras a sua maior
vítima, revela a necessidade de ações
efetivas de melhoria das condições de vida de toda a população trabalhadora. As
mudanças não podem ser paliativas, mas devem ser essenciais, capazes de alterar
a pobreza material e cultural de um povo que vive em um país que,
paradoxalmente, tem experimentado grande crescimento econômico. Caso contrário
outros levantes podem vir a ocorrer e de modo não tão “contido e administrado”
como os que estamos verificando nestas últimas semanas.
A
juventude de origem trabalhadora têm um crédito histórico que precisa ser
resgatado e somente ela têm a força necessária para cobrá-lo e para impor as
mudanças essenciais, já que eles não têm nada a perder. As juventudes das
classes médias, aquelas que predominam nas atuais manifestações convocadas
pelas redes sociais (70% a população não tem acesso à internet e, portanto, às
redes sociais), podem revelar a sua solidariedade à população que vive mais
violentamente a precarização social, pode até participar de modo decisivo nas
lutas sociais, mas somente a juventude trabalhadora tem as condições objetivas
para levar até o fim a necessária luta
anticapitalista e para promover a transformação social.
PNAD -
Acesso à Internet e Posse de Telefone Móvel Celular para Uso Pessoal 2011
Pessoas de 10 anos ou mais de idade que
utilizaram a internet no período de referência dos últimos 3 meses
|
30,7
|
%
|
Estudantes
da rede pública de ensino de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a
internet no período de referência dos últimos 3 meses
|
41,1
|
%
|
Estudantes
da rede privada de ensino de 10 anos ou mais de idade que utilizaram a
internet no período de referência dos últimos 3 meses
|
89,3
|
%
|
Pessoas de 10 anos ou mais de idade ocupadas que
utilizaram a internet no período de referência dos últimos 3 meses
|
30,6
|
%
|
Pessoas de 10 anos ou mais de idade não ocupadas
que utilizaram a internet no período de referência dos últimos 3 meses
|
30,8
|
%
|
Pessoas de 10 anos ou mais de idade que possuíam
telefone móvel celular para uso pessoal no período de referência dos últimos
3 meses
|
57,2
|
%
|
Estudantes de 10 anos ou mais de idade que
possuíam telefone móvel celular para uso pessoal no período de referência dos
últimos 3 meses
|
47,7
|
%
|
Fonte: IBGE estados. In: www.ibge.gov.br/estados
É o
capitalismo que está sendo colocado em xeque nas ruas e nas periferias dos
centros urbanos já que é este sistema que sobrevive da miséria dos
trabalhadores, que promove as disputas interindividuais e que mercatiliza
direitos subjetivos dos cidadãos como a educação, a saúde, a segurança, os
transportes públicos e até a religião. A alternativa continua sendo o
socialismo, mesmo que a midia promova a desconfiança com as organizações
sindicais e os partidos de esquerda, que assumem a luta anticapitalista e pelo
socialismo.
A
propóstio, a materia do Jornal Diário do Pará, que registra a morte de violenta
de 17 jovens no último final de semana em Belém, é finalizada assim:
“Ressalta-se que não estão incluídas as vítimas de baleamento, facadas,
pauladas e acidentes de tânsito que morreram em hospitais como os prontos
socorros do Guamá e da 14 de março, urgência e emergência de Marituba e
Hospital Metropolitano”.
Ronaldo
Lima Araujo e Fernanda Almeida
[1] ARAUJO e ALVES. Juventude, Trabalho E Educação: Questões de
diversidade e classe da Juventude na Amazônia. Texto. No prelo.
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